"Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura..."

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Lembrar é Perder.

Os tempos de criança, sempre os tive como a altura da vida mais propícia à felicidade plena, precisamente, pelo simples facto de, durante eles, não se ter a tentação de pensar e calcular condições e critérios para se ser feliz.

Quando era menino, não tinha memórias ou recordações. Não as tinha, porque, antes desse tempo, eu simplesmente não era. Se hoje eu vivo preso ao que já fui e ao que quero ser, na infância eu simplesmente vivia todo o meu tempo, sem passado ou futuro – enchia o meu presente com a minha existência, em brincadeiras genuínas e imaginação livre – os sonhos eram vividos como os dias.

Aos olhos de um petiz tudo é grande e naturalmente bom. Conquistamos o mundo em cada alvorada promissora, colocando em cada gesto tudo o que somos, sentimos e pensamos – impomos a simplicidade da verdade à nossa realidade e à de quem nos rodeia, como se exigíssemos das coisas vivas e até das outras, as inanimadas, a sua entrega e rendição totais.

Talvez por isso, já adultos e vencidos, vemos no sorriso de uma criança a saudade incontornável de sermos realmente bons e arrogamo-nos a menosprezá-la, tentando assim convencermo-nos de que somos mais e melhor do que o que já fomos em tempos antigos, quando ainda não tinhamos um passado. No entanto, entre esse passado e o presente, escapou-nos aquele sorriso doce e meigo.

Deixámos de viver essa felicidade... apenas a lembramos. Algures pelo caminho começámos a pensá-la e, logo ali, sem darmos conta disso, perdêmo-la para sempre.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O PALHAÇO



O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco.E diz que não fez nada.
O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.

O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado.
O palhaço é um mentiroso.
O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto.
O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços.
O palhaço coloca notícias nos jornais.
O palhaço torna-nos descrentes.
Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si.

O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico, seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo.
Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa.
O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros, vociferando insultos.

O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas.
O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também.

O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem.
O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres.
O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada. Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.

O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar, como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria.
E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais, saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar. E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha.

O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político.
Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar.

A escolha é simples. Ou nós, ou o palhaço.

Mario Crespo in JN

terça-feira, 30 de março de 2010

NÃO HÁ PÁTRIA SEM HERÓIS.

ASSOCIAÇÃO PARA O MOMUMENTO DE HOMENAGEM AOS MILITARES DO PORTO QUE COMBATERAM NO ULTRAMAR

Na Cidade do Porto não há memorial que recorde os combatentes que nasceram neste Concelho, ao contrário de muitas povoações de Portugal, em que já existem Monumentos que perpetuam e honram a memória dos seus filhos que, na condição de Soldados, nas últimas décadas do Século XX, cumpriram o seu Dever e sacrificaram a vida no Ex-Ultramar.

Alguns camaradas de armas destes combatentes, não se conformaram com esta situação e propuseram-se reparar esta omissão. Com espírito de "Missão", meteram ombros à tarefa.
O primeiro passo foi criar uma Associação. Assim nasceu a denominada "Associação para o Monumento de Homenagem aos Militares do Porto que Combateram no Ultramar”.
Esta Associação tem como único objecto, erigir um Memorial, na cidade do Porto, que torne perene a Memória dos soldados portuenses que pereceram no cumprimento do seu Dever. Ela extinguir-se-á após a inauguração do Monumento.

Membros da Direcção da Associação começaram então a trabalhar na selecção de um local apropriado para erigir o Monumento. Dado que várias entidades deveriam aprovar e supervisionar este empreendimento, em todas as suas vertentes, a pesquisa teve que ser criteriosa e cuidada, o que causou demora inevitável.
Após inúmeras diligências efectuadas, a Direcção desta Associação acredita que o Projecto entrou agora na recta final.

O Memorial não será nem majestático, nem sumptuoso, mas em toda a Sua singeleza, será, com certeza, Digno. Não se abdicará de O inaugurar com pompa e circunstância.
Ele deverá ser edificado junto à Muralha Norte da Fortaleza de São João da Foz do Douro. Esta terá, assim, o Seu historial engrandecido e o Memorial ficará também muito bem acompanhado.

Os nomes dos combatentes mortos serão gravados no bronze do Memorial.

As entidades oficiais não nos prometeram nenhuma ajuda monetária ou outra.
Apelamos
, por conseguinte, ao auxílio de todos os Portugueses em geral e dos Portuenses, em particular.

A obra está a nascer. No entanto, para que ela cresça e se desenvolva, necessita da ajuda de todos aqueles que, ao se afirmarem Patriotas, reconhecem implicitamente que têm uma dívida de gratidão para com todos aqueles que combateram e tombaram em defesa da Pátria.

Foi para puderem concretizar a vossa ajuda, em termos monetários, que abrimos a conta Nº. 0006 2498 1089 com o NIB 0007 0000 0062 4981 0892 3, em nome da Associação Homenagem Militares – Porto, no Banco Espírito Santo – BES na delegação de S. João de Brito – Porto.
As pessoas que queiram emitir cheques, é favor endereçá-los para a sede da nossa Associação: Rua Álvares Cabral, 137 – 4050-041 Porto.
Recibos no montante das ofertas serão emitidos pela Associação.
Estamos a efectuar diligências para que as empresas também possam contabilizar os nossos recibos, ao abrigo da Lei do Mecenato. É um processo moroso, pleno de vicissitudes.

Deus Quer, o Homem Sonha, a Obra Nasce... - escrevia Fernando Pessoa.
A Obra terá que ser de todos nós.

Sede Social:
Rua Álvares Cabral, 137
4050 – 041 PORTO
Telefones para contacto: 965 211 013 – 964 076 876
E.mail:
militaresdoporto@gmail.com

terça-feira, 2 de março de 2010

Tempo de Voar bem mais Alto



Eis que termina o sonho!

A um portista custa mil vezes mais perder um campeonato que a outro qualquer adepto.
Nestes últimos anos, o hábito e acomodação às vitórias foram abrindo um fosso cada vez maior para algo inevitável e fatídico - a mágoa de não ser campeão.

Cresci a ver o FC Porto a crescer e tornar-se no clube mais vitorioso de Portugal, sem nenhum outro emblema chegar perto para lhe sequer fazer sombra.
Cresci a ver o meu clube a jogar o melhor futebol a nível europeu, relegando os seus rivais internos ao papel de figurantes e espectadores incrédulos, invejosos e ainda arrogantes, tanto o foram que ainda hoje são capazes de afirmar que não houve um único título ganho pelos dragões pelo seu simples mérito, o seu trabalho e profissionalismo.
Cresci habituado a ver o nome do meu clube ser arrastado na lama no meu próprio país, enquanto o seu emblema era elevado aos píncaros da Europa por todos os seus rivais internacionais.
Cresci a ver nascer na minha equipa grandes jogadores da história recente do futebol e lançarem-se na Europa, onde finalmente lhes era reconhecido o seu verdadeiro valor.
Cresci habituado a ir ao estádio festejar golos, vitórias, campeonatos, taças e principalmente... a ver o meu clube ganhar com orgulho, espírito de sacrifício e lealdade.

Ontem cresci mais um bocadinho. É também preciso perder e sentir o sabor amargo da derrota. Este ano o nosso campeonato parece definitivamente longe...mas sei que o meu clube saberá perder com honra e dignidade e renascerá para outros vôos futuros. Acabando com uma senda de vitórias caseiras, chega a altura de abrirmos caminho para uma nova epopeia europeia.
Portista não se cansa de ganhar...e não pára de crescer.


Assumindo que este ano não somos os melhores em Portugal, felicito quem o é: Benfica e Braga. Parabéns ao Sporting pela exibição de Domingo passado - justos vencedores. Agradeço-lhes como portista pela lição que nos deram - a da humildade. Talvez, após tantos anos a ganhar tanta coisa, nos tenhamos esquecido dela.

O sonho terminou. É tempo de aprender com os erros e crescer e voltar a sonhar...para voar...bem mais alto.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Imaginem - Mário Crespo



Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento.
Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.
Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento.
Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas.
Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta.
Imaginem que só eram usados em funções do Estado.
Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público.
Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar.
Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês.
Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha.
Imaginem que o faziam por consciência.
Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas.
Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam.
Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares.
Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas.
Imaginem remédios dez por cento mais baratos.
Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde.
Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros.
Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada.
Imaginem as pensões que se podiam actualizar.
Imaginem todo esse dinheiro bem gerido.
Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.
Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal.
Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas.
Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo.

Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.
Imaginem que país seremos se não o fizermos.

Mário Crespo

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Espírito das Conferências


É altura de retomar os exemplos do passado.
É o momento de assumir novas responsabilidades e desafios.
É o presente de construir a visão do futuro:
Portugal...
É Hora!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Salve-se o Jogo...



Sou um adepto apaixonado por futebol, ferveroso seguidor do seu clube e amante incondicional da bola. Dos pontos altos da minha semana, um deles passa certamente por ir ao estádio (ainda que muitas vezes em horários incompreensiveis - Domingo às 21h15???) e vibrar com as jogadas, fintas, remates, os golos e toda a festa deste ritual quinzenal, como já tive oportunidade de descrever aqui há alguns meses atrás.

Mas, há alguns meses atrás o meu espírito alegrava-se, não apenas pelas vitórias do meu clube, como também pelo futebol jogado e discutido de então - os temas passavam sempre pelas tácticas discutíveis das equipas, o jogador A, B ou C que deveria ou não ser titular, naturalmente os erros de arbitragem inevitáveis e intrínsecos a qualquer jogo humano, os treinadores que estariam ou não à altura da equipa, o mesmo se aplicando aos presidentes e muitas outras conversas de café e de comentadores de televisão e imprensa. Que maravilha! Respirava-se futebol... vivia-se futebol... aspirava-se ao futebol... jogava-se futebol... dentro e fora das quatro linhas.

Eis que, volvido quase um ano, a bola rola, a romaria ao estádio mantém-se, as jogadas acontecem, os golos surgem e no final do jogo, fora das quatro linhas, o futebol termina, nada mais acontece que seja digno de ser considerado como parte do mundo da bola. Os assuntos do dia versam sobre novelas e episódios de um outro tipo de jogo que se vai fazendo longe dos relvados - é um jogo onde não há regras, nem espírito de vitória. É um jogo delineado à mesa com outro tipo de jogadores, definido nas secretárias de outro tipo de árbitros e que, irremediavelmente, termina dentro do campo verde, onde tudo se decide. Que desilusão! Hoje já não se respira futebol... suspira-se. Já não se vive futebol... assiste-se. Já não se aspira ao futebol... calcula-se.

Quem dera que a principal notícia fosse um Braga candidato ao título. Quem dera que o grande comentário fosse o ataque benfiquista goleador. Quem dera que a crónica se escrevesse sobre um Sporting a renascer. Quem dera que o destaque fosse para mais um grande golo do Hulk.
Não tomem este escrito como um desabafo faccioso e viciado de um portista. No início do texto não me referi ao meu FC Porto propositadamente. Sei reconhecer facilmente quando o meu clube não é o melhor em campo, tanto quanto sei reconhecer o mérito dos mais directos adversários. Considerem antes este artigo como um texto tendencioso de alguém que gosta do espetáculo dos 90 minutos, protagonizado pelos seus melhores actores. É que hoje falta-nos um dos seus melhores. Pergunto a qualquer benfiquista, sportinguista ou bracarense, se não gostava de poder ver de novo as grandes estiradas de Hulk e aqueles pontapés-canhão de pé esquerdo. Pergunto mais concretamente a qualquer benfiquista, se gostava de ver toda esta situação dúbia e incompreensível acontecer com o seu clube, impedindo um artista como o Saviola de jogar indefenidamente?

No final do dia, sobram apenas suspeições no ar, revolta dos adeptos, frustrações dos jogadores e agressões e ofensas entre clubes e seus seguidores.

É isto o futebol de Portugal! E nós somos todos com ele. Salve-se o jogo no estádio, nem que seja jogado à meia-noite de Segunda-feira.

INVICTUS



Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.


William Ernest Henley

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ISTO



Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!


Fernando Pessoa