Os tempos de criança, sempre os tive como a altura da vida mais propícia à felicidade plena, precisamente, pelo simples facto de, durante eles, não se ter a tentação de pensar e calcular condições e critérios para se ser feliz.
Quando era menino, não tinha memórias ou recordações. Não as tinha, porque, antes desse tempo, eu simplesmente não era. Se hoje eu vivo preso ao que já fui e ao que quero ser, na infância eu simplesmente vivia todo o meu tempo, sem passado ou futuro – enchia o meu presente com a minha existência, em brincadeiras genuínas e imaginação livre – os sonhos eram vividos como os dias.
Aos olhos de um petiz tudo é grande e naturalmente bom. Conquistamos o mundo em cada alvorada promissora, colocando em cada gesto tudo o que somos, sentimos e pensamos – impomos a simplicidade da verdade à nossa realidade e à de quem nos rodeia, como se exigíssemos das coisas vivas e até das outras, as inanimadas, a sua entrega e rendição totais.
Talvez por isso, já adultos e vencidos, vemos no sorriso de uma criança a saudade incontornável de sermos realmente bons e arrogamo-nos a menosprezá-la, tentando assim convencermo-nos de que somos mais e melhor do que o que já fomos em tempos antigos, quando ainda não tinhamos um passado. No entanto, entre esse passado e o presente, escapou-nos aquele sorriso doce e meigo.
Deixámos de viver essa felicidade... apenas a lembramos. Algures pelo caminho começámos a pensá-la e, logo ali, sem darmos conta disso, perdêmo-la para sempre.

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