
Este “grito” é sussurrado por muitos e ouvido por poucos. Para alguns, trata-se de uma falsa questão – a voz dos jovens está bem salvaguardada num Ministério da Juventude, nas juventudes dos partidos políticos, ou até nas associações académicas e outras organizações.
Para outros, a Juventude está perdida, completamente alheada da realidade e só resta ao país esperar uns anos para que ela simplesmente cresça e se torne completamente adulta.
Sendo assim, sinto-me encurralado entre a espada e a parede, obrigado a escolher uma delas. A espada aponta em direcção a uma atitude política activa que inevitavelmente nos obrigará a alinhar no autismo da partidocracia, instalada na nossa tão democrática Assembleia da República:
A esquerda, dita tolerante e universal, que assume a arrogância de se autoproclamar a única portadora natural dos valores de justiça social (todos os outros que não partilham a sua visão são retrógradas, reaccionários de vistas curtas); obriga “voluntariamente” os jovens a sair para as ruas, manifestar a sua indignação, "grafitar" paredes com frases profundas de indignação e aparecer na televisão, sempre acompanhados com os símbolos essenciais do seu "marketing": as cores vermelha e preta nas bandeiras, a irreverência de uns tambores e artes circenses de rua, a inevitável camisola com o Che estampado, o aspecto intelectual e esclarecido que uma barba bem despenteada e um belo par de óculos podem proporcionar. E um dia, percorridos muitos quilómetros de rua e gritaria, poder-se-á descansar numa bela cadeira de couro, nas trincheiras da bancada parlamentar do partido.
Mas, para quem não tem grande jeito nem paciência para malabarismos de rua, pode ainda recorrer às outras famílias partidárias, mais à direita. Aí não se pede muitos quilómetros nas pernas, mas apenas o estar no sítio certo, à hora certa, com um “cafezinho” pronto a servir e a disponibilidade total para tirar fotocópias e fazer recados ao seu superior e mentor partidário – ter um bom padrinho é meio caminho andado para a tão ansiada cadeira – entretanto, tira-se uma licenciatura por encomenda, porque ser Doutor dá outra credibilidade. Com uma boa cunha, o parlamento “tá no papo”.

Não querendo esta espada, resta-me a parede, onde me encosto à passividade e desinteresse total, ao mesmo tempo que vou engordando com tudo o que a televisão me alimenta. Eventualmente um dia abrirei os olhos, tornar-me-ei produtivo para a sociedade, pagarei impostos e descontarei para a segurança social. Serei finalmente um adulto de corpo e alma, mas sempre encostado à parede.
Em última análise, é a própria parede quem acaba por ajudar a manter a espada bem afiada.
No entanto, mesmo sendo ainda jovem, aprendi a dar valor ao carácter e mérito demonstrado por cada indivíduo nas suas acções. Chamem-me precoce, se assim o desejarem, mas recuso pegar na espada ou encostar-me à parede. Permaneço no limbo dos órfãos de uma Voz; daqueles que todos os dias lêem o jornal e vivem o País. Vivem-no para dentro, porque cá fora já existe quem “oficialmente” fale por eles. É a chamada democracia dos que a representam e não dos seus representados.
Nós, os jovens tolos que vivemos o nosso Portugal para dentro, contrariamente ao que se quer fazer crer, não somos uma espécie em vias de extinção, mas antes, um estado de alma em vias de expansão.
Para já, resta-nos sussurrar este “grito” até que alguém nos ouça. E se sussurrar não for suficiente, talvez escrever o seja:
E-X-I-S-T-E V-I-D-A E-M N-Ó-S.
Porto, 09/07/2008
Paabés,reco pouco democático.
ResponderEliminarUm abraço
RN
Parabéns,reco pouco democático.
ResponderEliminarUm abraço
RN
Como tive oportunidade de te dizer pessoalmente, aplaudo a iniciativa e o conteúdo.
ResponderEliminarabraço
humpty