"Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura..."

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

COLÓNIA - Ignoto Deo


Eis a Catedral de Colónia!
Quem aqui entra, esquece uma terra cá fora e encontra um mundo a dois: Deus e o Homem.



Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.

Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.

Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,

Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!

José Régio, in 'Biografia'


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Qualidade, Fair-Play e Verdade


Sou portista da cidade do Porto. Sinto muito o meu clube e tenho o privilégio de o poder fazer ao vivo, nas bancadas do Estádio do Dragão. Assumo que muitas vezes o fervor pelo meu clube chega a influenciar o meu julgamento que se quer imparcial: os lançes polémicos e duvidosos, a qualidade de jogo das equipas, a comunicação social e, claro está, a prestação das arbitragens. Ainda assim, vejo nesta paixão cega dos adeptos pelos seus respectivos clubes, o sal e a pimenta que tornam o espetáculo do futebol precisamente algo mais que um simples espetáculo - uma vivência partilhada e rivalizada.

Encaro a minha vivência portista com uma atitude positiva e recuso qualquer rótulo de anti-qualquer coisa. A única coisa que sou é PRÓ-F.C. PORTO!
Gosto de Futebol! Aliás, gosto de Bom Futebol! E, para mim, Bom Futebol define-se essencialmente por 3 características: a Qualidade de futebol praticado pelos jogadores, treinados e comandados pelos seus treinadores, o Fair-Play genuíno dentro e fora do campo e a Verdade desportiva do jogo.

Chegados praticamente ao fim da primeira volta da nossa Liga Portuguesa de Futebol (não a de nenhuma bebida ou combustível), tento fazer um balanço imparcial, sob os 3 critérios mencionados.

Qualidade:
É importante distinguir bem entre a qualidade técnica individual dos jogadores a actuar no campeonato e a qualidade demonstrada pelas equipas em campo, responsabilidade dos treinadores.
Quanto á primeira, sinceramente, considero que o nível médio da qualidade dos jogadores não variou, em relação aos últimos anos. O FC. Porto segue uma política de formação de jogadores de idade jovem com enorme potencial de crescimento: Hulk, Fernando, Rolando, entre outros. Ao Benfica atrai mais a contratação de valores já credenciados, como Suazo, Reyes e Aimar, resultado de uma sede urgente de resultados positivos a curto-prazo. Quanto ao Sporting permanece fiel à sua estratégia, conseguindo manter os seus maiores valores na equipa: João Moutinho, Liedson e Vukcevic.
Não querendo desvalorizar as outras equipas do campeonato, salvo raras excepções, as mais-valias de cada uma delas resumem-se a jogadores emprestados ou vendidos a preços de saldo, provenientes precisamente dos chamados 3 grandes clubes - equipas como o Braga, Guimarães, Académica e Vitória de Setúbal, entre outros, fazem depender a qualidade do seu plantel da boa vontade dos 3 "Grandes".
Em relação à Qualidade demonstrada em campo, penso estar correcto em afirmar que a qualidade tem tendência para subir. Basta ver clubes, como o Leixões, Nacional e Braga (ainda que este último já não nos surpreenda tanto), a mirar constantemente o topo da classificação, ou então um Trofense, ou um Rio Ave a tirar pontos aos grandes clubes. Chegamos facilmente à conclusão que a Liga está mais competitiva e não se tenha dúvidas que o está, por cima: são os mais pequenos que estão mais fortes, não os grandes que enfraqueceram. A prova é que, internacionalmente, o Porto e Sporting, estão entre as 16 melhores equipas europeias e o Braga avança vitorioso, rumo à Bélgica.

Fair-Play:
Não o da "treta", mas o genuíno. Para mim é essencial encarar o jogo pelo o que ele é. Uma partida defutebol decide-se nos 90 minutos jogados e, fora daí sim, tudo o resto são tretas!
Falo de dois tipos de equipas: as equipas do "Querer" e as do "Não Querer". As do "Querer" querem sempre entrar em campo para ganhar! Querem a Vitória, os 3 pontos, procuram o golo e cumprem com o verdadeiro espírito do desporto e competição: querer ser melhor para ganhar. Pensassem todas as equipas assim e o nosso futebol seria ainda mais espetacular.
As do "Não Querer" simplesmente não querem entrar em campo para ganhar. Contentam-se com o não perder: não querem a Vitória, basta-lhes evitar a derrota; não querem os 3 pontos, basta-lhes 1; não procuram o golo, apenas procuram evitar que o adversário marque um. Estas equipas assumem, como princípio, que são piores que os outros e nem aspiram a querer ser melhor que o seu rival. Nelas há espaço para o Anti-Jogo, para as simulações, para as desejadas paragens de jogo que possam tirar minutos aos 90. Não só tiram minutos de jogo, como também tiram a vontade de um simples adepto querer gastar 15 ou 20 Euros num bilhete, para ver um jogo jogado em apenas 60 minutos úteis.
Aqui critico especialmente os treinadores. São eles os líderes das equipas. São eles que podem influenciar o verdadeiro espírito desportivo dos jogadores. São eles que decidem se a equipa entra em campo para tentar ganhar, ou para tentar que o outro não ganhe. No nosso campeonato tanto temos treinadores do "Querer", como do "Não Querer". Normalmente os do "Querer" permanecem ou avançam na carreira e os do "Não Querer" são despromovidos ou "psicologicamente chicoteados". O futuro está no querer.

Verdade:
Eis que chegamos ao tema que tanta tinta e teclas tem feito correr e bater no último ano! As grandes polémicas da nossa realidade de hoje giram sempre à volta da tão gasta "Verdade Desportiva"! Mas para mim, não há polémica nenhuma: a Verdade é clara e perceptível - a Verdade é redonda e é chutada por 22 indivíduos, em duas partes de 45 minutos. A Verdade provém dos dois pontos atrás mencionados: Qualidade do futebol jogado e o Fair-Play genuíno. É claro que a sorte ou azar tem sempre um pequeníssimo peso - há dias em que a bola simplesmente não entra, ou que um jogador mais valia ter ficado em casa a jogar Playstation, mas eu ainda sou daqueles que acreditam que os resultados não só se decidem no pé esquerdo fulminante do Hulk, na cabeça matreira do Liedson, nas fintas em velocidade do Reyes,nos golos constantes do Wesley, ou nas defesas fantásticas do Peskovic, mas também no golo falhado do Lisandro Lopez, no frango do Moreira, na falha de marcação do Grimmy, na mão na bola do Felipe Lopes, ou no fora de jogo assinalado ao Renteria.
Não quero acreditar que a Verdade seja jogada pela falta de Qualidade e Fair-Play, fora das quatro linhas. Urge-se falar das outras equipas que não jogam, apesar de estarem em campo: as da arbitragem. Vejo bem as pressões a que são sujeitas, não durante os 90 minutos de jogo, mas durante o resto dos 7 dias da semana até à próxima partida. Vejo bem o peso que um processo douradamente arbitrado, pode ter; ou que uma imprensa comprometida com o suposto lado da maioria que mais compra em quantidade (não tanto em qualidade), pode influir no pulmão de um juíz, que na hora de soprar o apito para marcar um penalty, seja duvidoso, seja indiscutível, lhe falta o ar. Até mesmo um relatório de arbitragem discutido na praça pública e a consequente jarra, tão temida pelos indefesos árbitros, pode tirar o ar a qualquer pessoa, dependendo do estádio e camisola em questão.
Estas são as minhas dúvida, enquanto portista, que muito me preocupam! Como adepto continuo a acreditar que tal não é possível e, que no final, o melhor clube, o que mais "quis", o que procurou sempre a Vitória, os 3 pontos, procurou sempre ser melhor que o outro, apesar dos que "não quizeram" e dos que o quizeram ser, mas sem bola e fora das quatro linhas; apesar de tudo isso, acredito que o melhor sairá vencedor.

Perdoem-me a extensão do texto! Foi a opinião e desabafo de um "dragão tripeiro" que gosta muito do futebol português e sente com a alma o seu clube:
Tenho a sorte de ser Portista! Não só sou dos que querem, como também sou dos que ganham, com Qualidade, Fair-Play e Verdade!

A Vencer desde 1893!!!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Jovens - Entre a Espada e a Parede

Existe vida nos jovens portugueses!

Este “grito” é sussurrado por muitos e ouvido por poucos. Para alguns, trata-se de uma falsa questão – a voz dos jovens está bem salvaguardada num Ministério da Juventude, nas juventudes dos partidos políticos, ou até nas associações académicas e outras organizações.
Para outros, a Juventude está perdida, completamente alheada da realidade e só resta ao país esperar uns anos para que ela simplesmente cresça e se torne completamente adulta.

Sendo assim, sinto-me encurralado entre a espada e a parede, obrigado a escolher uma delas. A espada aponta em direcção a uma atitude política activa que inevitavelmente nos obrigará a alinhar no autismo da partidocracia, instalada na nossa tão democrática Assembleia da República:
A esquerda, dita tolerante e universal, que assume a arrogância de se autoproclamar a única portadora natural dos valores de justiça social (todos os outros que não partilham a sua visão são retrógradas, reaccionários de vistas curtas); obriga “voluntariamente” os jovens a sair para as ruas, manifestar a sua indignação, "grafitar" paredes com frases profundas de indignação e aparecer na televisão, sempre acompanhados com os símbolos essenciais do seu "marketing": as cores vermelha e preta nas bandeiras, a irreverência de uns tambores e artes circenses de rua, a inevitável camisola com o Che estampado, o aspecto intelectual e esclarecido que uma barba bem despenteada e um belo par de óculos podem proporcionar. E um dia, percorridos muitos quilómetros de rua e gritaria, poder-se-á descansar numa bela cadeira de couro, nas trincheiras da bancada parlamentar do partido.

Mas, para quem não tem grande jeito nem paciência para malabarismos de rua, pode ainda recorrer às outras famílias partidárias, mais à direita. Aí não se pede muitos quilómetros nas pernas, mas apenas o estar no sítio certo, à hora certa, com um “cafezinho” pronto a servir e a disponibilidade total para tirar fotocópias e fazer recados ao seu superior e mentor partidário – ter um bom padrinho é meio caminho andado para a tão ansiada cadeira – entretanto, tira-se uma licenciatura por encomenda, porque ser Doutor dá outra credibilidade. Com uma boa cunha, o parlamento “tá no papo”.

Não querendo esta espada, resta-me a parede, onde me encosto à passividade e desinteresse total, ao mesmo tempo que vou engordando com tudo o que a televisão me alimenta. Eventualmente um dia abrirei os olhos, tornar-me-ei produtivo para a sociedade, pagarei impostos e descontarei para a segurança social. Serei finalmente um adulto de corpo e alma, mas sempre encostado à parede.

Em última análise, é a própria parede quem acaba por ajudar a manter a espada bem afiada.
No entanto, mesmo sendo ainda jovem, aprendi a dar valor ao carácter e mérito demonstrado por cada indivíduo nas suas acções. Chamem-me precoce, se assim o desejarem, mas recuso pegar na espada ou encostar-me à parede. Permaneço no limbo dos órfãos de uma Voz; daqueles que todos os dias lêem o jornal e vivem o País. Vivem-no para dentro, porque cá fora já existe quem “oficialmente” fale por eles. É a chamada democracia dos que a representam e não dos seus representados.

Nós, os jovens tolos que vivemos o nosso Portugal para dentro, contrariamente ao que se quer fazer crer, não somos uma espécie em vias de extinção, mas antes, um estado de alma em vias de expansão.

Para já, resta-nos sussurrar este “grito” até que alguém nos ouça. E se sussurrar não for suficiente, talvez escrever o seja:

E-X-I-S-T-E V-I-D-A E-M N-Ó-S.


Porto, 09/07/2008

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Apenas Ser


Num gole de néctar
Dourado pela sede,
De sedes de um mundo de atrás
Que não se faz de tempo,
Saboreio os sonhos amargos de todo o sempre,
De uma doçura de memórias
Que não doem por as lembrar,
Mas magoam de saber que delas me lembro.

É uma sede de sonhos
Que as memórias não matam,
Que o presente não os tem,
Mas que permanecem doces no néctar.
Um néctar dourado pelo querer.
Esta sede de não querer mais beber,
De não querer mais estar.
Lembrar a amargura doce
De um dia encontrar uma memória
De apenas Ser…
Apenas Ser.

02/05/2008