
Sou um adepto apaixonado por futebol, ferveroso seguidor do seu clube e amante incondicional da bola. Dos pontos altos da minha semana, um deles passa certamente por ir ao estádio (ainda que muitas vezes em horários incompreensiveis - Domingo às 21h15???) e vibrar com as jogadas, fintas, remates, os golos e toda a festa deste ritual quinzenal, como já tive oportunidade de descrever aqui há alguns meses atrás.
Mas, há alguns meses atrás o meu espírito alegrava-se, não apenas pelas vitórias do meu clube, como também pelo futebol jogado e discutido de então - os temas passavam sempre pelas tácticas discutíveis das equipas, o jogador A, B ou C que deveria ou não ser titular, naturalmente os erros de arbitragem inevitáveis e intrínsecos a qualquer jogo humano, os treinadores que estariam ou não à altura da equipa, o mesmo se aplicando aos presidentes e muitas outras conversas de café e de comentadores de televisão e imprensa. Que maravilha! Respirava-se futebol... vivia-se futebol... aspirava-se ao futebol... jogava-se futebol... dentro e fora das quatro linhas.
Eis que, volvido quase um ano, a bola rola, a romaria ao estádio mantém-se, as jogadas acontecem, os golos surgem e no final do jogo, fora das quatro linhas, o futebol termina, nada mais acontece que seja digno de ser considerado como parte do mundo da bola. Os assuntos do dia versam sobre novelas e episódios de um outro tipo de jogo que se vai fazendo longe dos relvados - é um jogo onde não há regras, nem espírito de vitória. É um jogo delineado à mesa com outro tipo de jogadores, definido nas secretárias de outro tipo de árbitros e que, irremediavelmente, termina dentro do campo verde, onde tudo se decide. Que desilusão! Hoje já não se respira futebol... suspira-se. Já não se vive futebol... assiste-se. Já não se aspira ao futebol... calcula-se.

Não tomem este escrito como um desabafo faccioso e viciado de um portista. No início do texto não me referi ao meu FC Porto propositadamente. Sei reconhecer facilmente quando o meu clube não é o melhor em campo, tanto quanto sei reconhecer o mérito dos mais directos adversários. Considerem antes este artigo como um texto tendencioso de alguém que gosta do espetáculo dos 90 minutos, protagonizado pelos seus melhores actores. É que hoje falta-nos um dos seus melhores. Pergunto a qualquer benfiquista, sportinguista ou bracarense, se não gostava de poder ver de novo as grandes estiradas de Hulk e aqueles pontapés-canhão de pé esquerdo. Pergunto mais concretamente a qualquer benfiquista, se gostava de ver toda esta situação dúbia e incompreensível acontecer com o seu clube, impedindo um artista como o Saviola de jogar indefenidamente?
No final do dia, sobram apenas suspeições no ar, revolta dos adeptos, frustrações dos jogadores e agressões e ofensas entre clubes e seus seguidores.
É isto o futebol de Portugal! E nós somos todos com ele. Salve-se o jogo no estádio, nem que seja jogado à meia-noite de Segunda-feira.
Talvez nem a propósito, ontem, exactamente o mesmo dia em que coloquei este artigo aqui, pudemos assistir a um dos raros jogos de futebol a nível nacional, dignos de serem incluidos nos grandes jogos do ano 2010, á escala europeia / internacional.
ResponderEliminarÉ que, derrepente, esqueceram-se todas as polémicas, vergonhas e tristezas do futebol português fora das 4 linhas e VIVEMOS um espetáculo de bola, como há muito já não se via, tendo em conta tratarem-se de dois grandes do futebol português.
Muito obrigado ao FC Porto e ao Sporting CP pelos fantásticos 93 minutos, jogados até ao último segundo.
Está na hora do regresso do Tetra-Campeão!!!
De cada vez mais o futebol se tem transformado num espectáculo político de jogos de bastidores.
ResponderEliminarMuitas vezes se acusa o Estado Novo de ter manipulado o futebol em seu proveito, devíamos reflectir até que ponto essa realidade não foi multiplicada por 100 nos dias que correm...
Na verdade, questiono-me se os muitos aspectos negativos, identificados com o Estado Novo, não foram multiplicados nos dias que correm por 1000, disfarçados por uma demagogia e hipocrisia institucionalizada.
ResponderEliminarDo futebol, salve-se o jogo, como foi o espetáculo de ontem.
Da realidade, salve-se os bons homens que por aí andam, escondidos e amordaçados, mas que ainda os há, há.