"Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura..."

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

MARROCOS - Desertos de Paz


Terra de poeira e pó, onde nos encontramos em cada pedra.


Que bom era soltar o peso de uma alma.
Viver os momentos que não são pensados,
Mastigados e digeridos – momentos de nada.
As horas que rodam sem passar o tempo,
Esvaziando o corpo de tudo o que não é sentir.

Toda a escrita é momentos de tudo,
Mastigados e cuspidos em borras de tinta.
Escrevo o que quero esvaziar da alma.

Senta-te nos meus ensaios,
Meus portos de abrigo seguros dolentes e preguiçosos.
Tirem-me o sal das ideias
E deixem-me nadar no que resta de mim,
Um mar de sonhos da terra
–Sonhos de pó e areia.

Sobre eles escrevo porque não os quero.
Os sonhos tapam a vista e turvam a alma.
E a alma turva é presa e não me solta
E escrevo, então, a alma, fora de mim.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Condição de Ser Homem

Respira connosco uma saudade escondida...desde o primeiro momento. Envelhece-nos um vazio, disfarçado dentro de nós - é aquele tempo que já foi. Apanhou-nos desprevenidos e fugiu para um passado terminado e sem retorno. A alegria de viver alimenta-se do nosso tempo e gasta-o sem hesitações, cavando impiedosamente o buraco das horas vividas e agora mortas. A nossa alegria vai adormeçendo com as noites e morrendo com os dias e o vazio cresce e nós escondemo-nos, mas já não o disfarçamos.

E é esta condição de existir que distingue os verdadeiros dos falsos homens. É neste fado que escolhemos o que somos e o que queremos ser.

Os Homens de Coragem e Vitória reconhecem o vazio dentro de si, mas aspiram à plenitude das coisas. Vivem para ela, reflectem-na nos seus pensamentos e agem em verdade com o que pensam. São aqueles que vêm o Mundo e os outros como um só. A Humildade é a sua fonte de Vida. Os outros a sua razão de viver. Por este ideal dispôem-se a sofrer penas, a combater os seus dias e a dar a sua alegria. No final do caminho o vazio já não é mais... encheu-se com a alegria dos outros e neles os seus passos continuam-se. São os Homens de Verdadeira Honra, inconformados com este mundo e dispostos a construi-lo e reconstrui-lo, à imagem de um outro melhor.

Outros há que se resvalam no vazio e cedem à morte do seu ser. São os homens da cobardia e derrota. Não aspiram, mas curvam-se para dentro de si. Sobrevivem em ganância, abstêem-se do pensamento e reagem apenas aos caprichos de um momento egoísta. Vêem neles o mundo todo, deixando os outros fora da equação. A mesquinhez é a sua fonte de sobrevivência. O vazio em si é a razão para não viver, mas antes para sub-viver. Colocam os outros ao seu dispôr e encontram na realidade os motivos para as suas acções e amoralidades. São homens pequenos e de falsidade, conformados com este mundo, cedendo ao seu vazio. Não agem... reagem. Não pensam... calculam. Não criam... apenas desgastam. São os construtores de si apenas... os verdadeiros sub-viventes. E no final, o seu vazio é tudo e nele tudo se fina em morte anunciada.

Hoje prevalece e dissemina-se a apologia do vazio por todo um povo pigmeu e triste - um povo de homens da terra.

Mas não cedamos! Encontremos ânimo nesta saudade que connosco respira e continuemos a obra, com mãos de Verdade e Honra - O Povo Dos Homens Na Terra .