"Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura..."

terça-feira, 21 de abril de 2009

BOLONHA - Clepsydra

ITÁLIA

Memórias escondidas pelas ruas... que se revelam na história gravada em cada pedra.

Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...

De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.

Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...

Trémulos astros...
Soidões lacustres...
– Lemos e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!

Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
– Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo


Camilo Pessanha



terça-feira, 7 de abril de 2009

Novos Rastos



Talvez um dia alguém descubra o segredo dos que nada escondem.
Dos que percorrem um fio de existência
Que segura o fardo das mãos,
Enfraquecidas pela vida.
Talvez um dia alguém descubra o porquê de tanto sofrer
Por se ter um coração aberto ao mundo
– onde cabem todas as mãos que o procuram.
Talvez um dia alguém abra os olhos
E veja que o que sobrou de si nesta terra,
Mede-se pelo número de mãos que socorreu…
Não pelo que a mão guardou para si,
Mas pelo que de si ofereceu.

A fé, a luta e a mudança ninguém descobre.
Vivem-se no verbo Dar.
Ficará sempre um rosto de amor em nós
Que nos fará dar a mão e abrir o coração – novos rastos.

Talvez um dia alguém descubra
Que basta um que nada esconde
Para que outros que vivem, possam nascer.

23/05/2008